Jardim Proibido
Outro dia deparei-me com uma notícia espantosa. O adjectivo pode parecer redundante pois vamo-nos habituando a associá-lo a quase tudo o que lemos nos jornais e vemos na TV. Ele serve, no caso, apenas para acentuar o absurdo da estória.
Acontece que uma escola, em Lourel, chamada «Jardim das Brincadeiras», pretendeu introduzir um sistema activo de vigilância, que permitiria aos pais, onde quer que estivessem, observar os filhos.
A iniciativa parecia boa. O problema foi que a creche, os seus responsáveis, tiveram a peregrina ideia de submetê-la às autoridades competentes. A resposta foi uma categórica, se calhar também inapelável, reprovação.
Mas porque carga de água um sistema «high-tech» que permite zelar pelo bem-estar das crianças, ultrapassando o handicap da distância, há-de merecer tão estranha rejeição?
Ora bem, uma famigerada «Comissão de Protecção de Dados Pessoais» (ah! não sabem como se esvai o dinheirinho dos nossos impostos com tanta Comissão, Direcção, Instituto por aí à solta?) considerou, do alto da sua sapiência, tratar-se de um atentado aos «direitos dos trabalhadores» da creche e psicólogos e outras criaturas auscultadas dissertaram sobre a tendência das mamãs e papás para traumatizar as criancinhas (na circunstância virtualmente) e intrometerem-se nos ofícios das educadoras por eles pagas.
Está-se a ver que, num país em que só o facto consumado progride, os responsáveis da creche cometeram, honesta e ingenuamente, o deslize de pedirem o palpite e decisão oficial sobre a sua iniciativa.
Estamos entregues aos empatas. Adoramos empatar, porque assim se poupam tanto as angústias da derrota como a competência e labor exigidos pelo sucesso e cultivamos persistentemente o entorse à iniciativa.
Por isso mesmo, ao fim de ano e meio de negociações, dezenas de reuniões e centenas de páginas produzidas, o governo e os representantes máximos da sociedade civil, os parceiros sociais, preparam-se para fingir que nada até agora se passou, que andaram, pura e simplesmente, este tempo todo, a tagarelar à volta de uns cafés e umas águas minerais e a dar umas dicas para a imprensa de serviço. Pelos vistos acham normalíssimo voltar ao grau zero da negociação de um acordo, que visa (pasme-se!) a urgência de competirmos na União Europeia e no mundo, tendo como base a situação desgraçada em que nos encontramos.
Pois é. Mesmo que nos acenassem com um contrato bilionário para tentar Comunicar ao público que tudo isto é normal e em nada nos afecta recusávamos terminantemente o negócio. Há empreendimentos que não se aceitam por motivos éticos. Há outros que se recusam por uma questão de bom senso e sentido do ridículo.
Acontece que uma escola, em Lourel, chamada «Jardim das Brincadeiras», pretendeu introduzir um sistema activo de vigilância, que permitiria aos pais, onde quer que estivessem, observar os filhos.
A iniciativa parecia boa. O problema foi que a creche, os seus responsáveis, tiveram a peregrina ideia de submetê-la às autoridades competentes. A resposta foi uma categórica, se calhar também inapelável, reprovação.
Mas porque carga de água um sistema «high-tech» que permite zelar pelo bem-estar das crianças, ultrapassando o handicap da distância, há-de merecer tão estranha rejeição?
Ora bem, uma famigerada «Comissão de Protecção de Dados Pessoais» (ah! não sabem como se esvai o dinheirinho dos nossos impostos com tanta Comissão, Direcção, Instituto por aí à solta?) considerou, do alto da sua sapiência, tratar-se de um atentado aos «direitos dos trabalhadores» da creche e psicólogos e outras criaturas auscultadas dissertaram sobre a tendência das mamãs e papás para traumatizar as criancinhas (na circunstância virtualmente) e intrometerem-se nos ofícios das educadoras por eles pagas.
Está-se a ver que, num país em que só o facto consumado progride, os responsáveis da creche cometeram, honesta e ingenuamente, o deslize de pedirem o palpite e decisão oficial sobre a sua iniciativa.
Estamos entregues aos empatas. Adoramos empatar, porque assim se poupam tanto as angústias da derrota como a competência e labor exigidos pelo sucesso e cultivamos persistentemente o entorse à iniciativa.
Por isso mesmo, ao fim de ano e meio de negociações, dezenas de reuniões e centenas de páginas produzidas, o governo e os representantes máximos da sociedade civil, os parceiros sociais, preparam-se para fingir que nada até agora se passou, que andaram, pura e simplesmente, este tempo todo, a tagarelar à volta de uns cafés e umas águas minerais e a dar umas dicas para a imprensa de serviço. Pelos vistos acham normalíssimo voltar ao grau zero da negociação de um acordo, que visa (pasme-se!) a urgência de competirmos na União Europeia e no mundo, tendo como base a situação desgraçada em que nos encontramos.
Pois é. Mesmo que nos acenassem com um contrato bilionário para tentar Comunicar ao público que tudo isto é normal e em nada nos afecta recusávamos terminantemente o negócio. Há empreendimentos que não se aceitam por motivos éticos. Há outros que se recusam por uma questão de bom senso e sentido do ridículo.
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