Acordo? Acordem!
Uma esquisita e arrepiante quietude, uma súbita suspensão do tempo, precede normalmente as grandes catástrofes. Sabem-no os aborígenes de Andaman e Nicobar, que não precisam das nossas sofisticadas tecnologias e, muito menos, da nossa admirável civilização, para antecipar os cataclismos. Basta-lhes ouvir os sinais da natureza, escutar o absoluto silêncio dos pássaros.
Se não fosse o tsunami os telejornais tinham fechado para férias entre o Natal e os primeiros dias do ano. Com os políticos na neve ou num qualquer outro lugar exótico e o país ausente, o ambiente foi de total acalmia. Uma pasmaceira que não é prenúncio de coisa nenhuma, apenas alheamento saloio de toda a preocupação, confirmando que Eduardo Lourenço tem razão quando fala de depressão como álibi da inépcia, irresponsabilidade manhosa e preguiça matreira que preenche a alma colectiva.
Pouco mais houve a registar que os atrasos dos futebolistas no regresso ao trabalho, o habitual saldo sinistro de mortos e feridos no asfalto e as primeiras escaramuças de campanha: brigas por um emprego nas listas, a recusa do Prof. Cavaco Silva em ser exibido num outdoor ao lado do dr. Santana Lopes e os socialistas apelando, num cartaz inacreditável, a que se acredite outra vez em Portugal – e haverá alguém que acredite ser possível ir mais longe em matéria de ridículo?
As coisas iam correndo assim até que, no dia 4, era anunciado um acordo «histórico» entre confederações patronais e sindicais. Finalmente uma notícia da pátria? Mesmo sabendo-se que daqueles seres não costuma vir nada de relevante, o ambicioso epíteto de «histórico» espicaçava alguma expectativa.
Afinal, trata-se de título longo a encimar meia dúzia de parágrafos desconexos. O intitulado «Acordo entre as Confederações com Assento na Comissão Permanente de Concertação Social, visando a Dinamização da Contratação Colectiva», querendo-se «histórico», que diz? Apresenta soluções para o resolver o insustentável desequilíbrio das finanças públicas que compromete o crescimento económico e o emprego? Estabelece compromissos que permitam enfrentar a fatal insolvência do sistema de protecção social? Preocupa-se com o estado calamitoso da educação e saúde? Detém-se na questão das qualificações? Abre caminho à desregulamentação indispensável à mobilidade do mercado de trabalho?
Nada disso. Diz que os subscritores vão «diligenciar no sentido de apoiarem um decurso normal dos processos negociais…», que cada um deles «indicará um elemento de contacto, responsável a nível dessa Confederação pelo acompanhamento da negociação colectiva», que irão «reunir a alto nível com vista a diligenciar no sentido de assegurar o decurso normal dos processos negociais», que «entendem que devem ser considerados na contratação colectiva conteúdos especialmente importantes de natureza específica…», que «defendem ser útil e desejável o desenvolvimento da informação atempada…». Alguém acredita nisto? É mais fácil fazer a vontade ao PS e «voltar a acreditar em Portugal»…
O facto de terem conseguido redigir colectivamente, em mau português, estas baboseiras até dá razão aos que defendem a possibilidade e a clara vantagem de celebrar em sede de concertação social acordos bilaterais entre organizações patronais e sindicais. Mas o que lá está representa uma flagrante capitulação face às propostas apresentadas pelas quatro confederações empresariais nas Bases para um Contrato Social para a Competitividade e Emprego (que, insistimos, podem ser lidas em http://lfaria.blogspot.com). Mais que uma mesquinha traição, os parceiros sociais «diligenciaram» agora uma nova manifestação de incapacidade e incompetência face ao poder político. É por estas e por outras que os empresários deixaram de lhes atribuir qualquer importância.
Se não fosse o tsunami os telejornais tinham fechado para férias entre o Natal e os primeiros dias do ano. Com os políticos na neve ou num qualquer outro lugar exótico e o país ausente, o ambiente foi de total acalmia. Uma pasmaceira que não é prenúncio de coisa nenhuma, apenas alheamento saloio de toda a preocupação, confirmando que Eduardo Lourenço tem razão quando fala de depressão como álibi da inépcia, irresponsabilidade manhosa e preguiça matreira que preenche a alma colectiva.
Pouco mais houve a registar que os atrasos dos futebolistas no regresso ao trabalho, o habitual saldo sinistro de mortos e feridos no asfalto e as primeiras escaramuças de campanha: brigas por um emprego nas listas, a recusa do Prof. Cavaco Silva em ser exibido num outdoor ao lado do dr. Santana Lopes e os socialistas apelando, num cartaz inacreditável, a que se acredite outra vez em Portugal – e haverá alguém que acredite ser possível ir mais longe em matéria de ridículo?
As coisas iam correndo assim até que, no dia 4, era anunciado um acordo «histórico» entre confederações patronais e sindicais. Finalmente uma notícia da pátria? Mesmo sabendo-se que daqueles seres não costuma vir nada de relevante, o ambicioso epíteto de «histórico» espicaçava alguma expectativa.
Afinal, trata-se de título longo a encimar meia dúzia de parágrafos desconexos. O intitulado «Acordo entre as Confederações com Assento na Comissão Permanente de Concertação Social, visando a Dinamização da Contratação Colectiva», querendo-se «histórico», que diz? Apresenta soluções para o resolver o insustentável desequilíbrio das finanças públicas que compromete o crescimento económico e o emprego? Estabelece compromissos que permitam enfrentar a fatal insolvência do sistema de protecção social? Preocupa-se com o estado calamitoso da educação e saúde? Detém-se na questão das qualificações? Abre caminho à desregulamentação indispensável à mobilidade do mercado de trabalho?
Nada disso. Diz que os subscritores vão «diligenciar no sentido de apoiarem um decurso normal dos processos negociais…», que cada um deles «indicará um elemento de contacto, responsável a nível dessa Confederação pelo acompanhamento da negociação colectiva», que irão «reunir a alto nível com vista a diligenciar no sentido de assegurar o decurso normal dos processos negociais», que «entendem que devem ser considerados na contratação colectiva conteúdos especialmente importantes de natureza específica…», que «defendem ser útil e desejável o desenvolvimento da informação atempada…». Alguém acredita nisto? É mais fácil fazer a vontade ao PS e «voltar a acreditar em Portugal»…
O facto de terem conseguido redigir colectivamente, em mau português, estas baboseiras até dá razão aos que defendem a possibilidade e a clara vantagem de celebrar em sede de concertação social acordos bilaterais entre organizações patronais e sindicais. Mas o que lá está representa uma flagrante capitulação face às propostas apresentadas pelas quatro confederações empresariais nas Bases para um Contrato Social para a Competitividade e Emprego (que, insistimos, podem ser lidas em http://lfaria.blogspot.com). Mais que uma mesquinha traição, os parceiros sociais «diligenciaram» agora uma nova manifestação de incapacidade e incompetência face ao poder político. É por estas e por outras que os empresários deixaram de lhes atribuir qualquer importância.
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