O HORÓSCOPO
(Publicado na Distribuição Hoje/Dez 2004)
Com o ano a caminhar rapidamente para o seu termo já nos dispomos «mais para lá do que para cá», ou seja, mais que o balanço de ganhos e perdas do exercício à beira de desfecho (estamos todos fartos deste 2004!) estamos sobretudo curiosos do que nos reserva 2005.
Em tempo de planear a vida pessoal e profissional nada melhor, como magna referência, do que o orçamento dos orçamentos, o Orçamento de Estado (o qual dizem, mas amiúde não acreditamos, somos, afinal, todos nós) para o próximo ano.
Traz-nos boas perspectivas? A economia vai finalmente arribar e atender aos outros factos da vida para além do défice das contas públicas? Os mercados vão recobrar o alento e vão mexer com a recuperação da procura? Mais clientes e com a carteira mais recheada? O investimento a sair do marasmo dos últimos anos?
A acreditarmos na Proposta de Lei orçamental apresentada pelo Governo a resposta a estas perguntas é espantosamente afirmativa. A acreditar…é claro.
À partida emerge um motivo de optimismo para fazer alguma fé nesta proposta orçamental Orçamento de Estado: era quase impossível fazer melhor que o Eng. Guterres (a gastar de mais) que a Dra ferreira Leite (a lançar aa economia em recessão em nome da abstracção do défice).
No consulado do Eng Guterres, com excepção da passagem do Dr Pina Moura pelo Ministério das Finanças geriu-se em contra-ciclo. Em vez de aproveitar o período de vacas gordas para disciplinar as contas públicas esbanjou recursos e protelou reformas inadiáveis. No do Dr Barroso, com a Dra Ferreira Leite timorata e austeramente ao leme subordinou-se toda a política económica à fixação no cumprimento de um critério de convergência formal que, estando a ser pulverizado por parceiros comunitários mais poderosos, estava condenado à revisão. Ainda por cima houve que recorrer a receitas extraordinárias para evitar uma catástrofe ainda maior que a legada dos antecessores.
Ora, a proposta orçamental para o ano que aí vem poderia ser ilustrada com «smileys», aqueles bonequinhos engraçados e simpáticos que pululam na net.
Ora vejamos: a economia no seu conjunto a crescer mais (2,4%) que as suas parceiras da Zona Euro, de acordo com os palpites da Comissão Europeia, mas, mesmo assim, a crescer menos que a espanhola (3%, de acordo com a estimativa orçamental do respectivo governo).
A procura interna a sustentar este crescimento, sobretudo o consumo privado, ainda por cima com os rendimentos a contar com menos concorrência da poupança, já que a proposta orçamental extermina os benefícios fiscais de instrumentos típicos da classe média como os Planos Poupança Reforma/Educação (PPR/E), os Planos Poupança Acções (PPA) e Contas Poupança Habitação (CPH). Em compensação reduzem-se as taxas de alguns escalões do IRS, o que liberta rendimento disponível e reduz a pressão salarial.
A inflação média estimada para o final do ano é de 2%. Nada mau. Os custos salariais ainda não serão pressionados por uma redução drástica do desemprego em que ninguém acredita (com excepção do Governo) e o efeito conjugado da inflação e da descida do IRS dão um contributo positivo. Significa, no fundo, que as actualizações de preços não serão pesadas poupando assim muitos riscos no relacionamento com clientes e fornecedores.
Também no final do ano pagaremos menos 600 milhões de euros de IRC pois a taxa aplicar em 2005 será de 25%.
É claro que os impostos, na sua generalidade, continuarão a ser elevados, no que respeita ao IVA nada se alterou, excepto um ou outro aspecto muito pontual, continuamos aa pagar muito mais que a Espanha. As garantias dos contribuintes sofrem um sério ataque, com a inversão do obus da prova para o lado do contribuinte que ficará mais exposto à presunção tributária. Mas prometem-nos, em contrapartida, dar mais justiça ao mercado, perseguindo e punindo os prevaricadores ficais.
O maior senão é que tudo isto assenta em alicerces muito vulneráveis. O maior dos quais é a previsão para o enquadramento internacional: parte-se da vontade de que o petróleo ande em média anual nos 33 dólares quando o seu preço actual ultrapassou já a barreira psicológica dos 50 dólares. Optimismo que é partilhado, ainda em maior grau, pelos orçamentos francês e espanhol. Crê-se, por outro lado, que as receitas extraordinárias darão um contributo recorde para a meta das receitas totais. Se a estimativa se ficar pela crença lá se vai o equilíbrio das contas abaixo do fetiche dos 3% do produtos. Não se pode duvidar que a economia cresça ao ritmo fixado de 2,4%, caso contrário lá se vão as receitas fiscais por aí abaixo e mais uma machadada no défice.
Vamos então guardar um desejos da passagem do ano para desejar que nada disto aconteça.
E vamo-nos sobretudo habituando à ideia de que não são muito densas as fronteiras entre o exercício da previsão económica dos nossos governantes e as probabilidades de um horóscopo.
Com o ano a caminhar rapidamente para o seu termo já nos dispomos «mais para lá do que para cá», ou seja, mais que o balanço de ganhos e perdas do exercício à beira de desfecho (estamos todos fartos deste 2004!) estamos sobretudo curiosos do que nos reserva 2005.
Em tempo de planear a vida pessoal e profissional nada melhor, como magna referência, do que o orçamento dos orçamentos, o Orçamento de Estado (o qual dizem, mas amiúde não acreditamos, somos, afinal, todos nós) para o próximo ano.
Traz-nos boas perspectivas? A economia vai finalmente arribar e atender aos outros factos da vida para além do défice das contas públicas? Os mercados vão recobrar o alento e vão mexer com a recuperação da procura? Mais clientes e com a carteira mais recheada? O investimento a sair do marasmo dos últimos anos?
A acreditarmos na Proposta de Lei orçamental apresentada pelo Governo a resposta a estas perguntas é espantosamente afirmativa. A acreditar…é claro.
À partida emerge um motivo de optimismo para fazer alguma fé nesta proposta orçamental Orçamento de Estado: era quase impossível fazer melhor que o Eng. Guterres (a gastar de mais) que a Dra ferreira Leite (a lançar aa economia em recessão em nome da abstracção do défice).
No consulado do Eng Guterres, com excepção da passagem do Dr Pina Moura pelo Ministério das Finanças geriu-se em contra-ciclo. Em vez de aproveitar o período de vacas gordas para disciplinar as contas públicas esbanjou recursos e protelou reformas inadiáveis. No do Dr Barroso, com a Dra Ferreira Leite timorata e austeramente ao leme subordinou-se toda a política económica à fixação no cumprimento de um critério de convergência formal que, estando a ser pulverizado por parceiros comunitários mais poderosos, estava condenado à revisão. Ainda por cima houve que recorrer a receitas extraordinárias para evitar uma catástrofe ainda maior que a legada dos antecessores.
Ora, a proposta orçamental para o ano que aí vem poderia ser ilustrada com «smileys», aqueles bonequinhos engraçados e simpáticos que pululam na net.
Ora vejamos: a economia no seu conjunto a crescer mais (2,4%) que as suas parceiras da Zona Euro, de acordo com os palpites da Comissão Europeia, mas, mesmo assim, a crescer menos que a espanhola (3%, de acordo com a estimativa orçamental do respectivo governo).
A procura interna a sustentar este crescimento, sobretudo o consumo privado, ainda por cima com os rendimentos a contar com menos concorrência da poupança, já que a proposta orçamental extermina os benefícios fiscais de instrumentos típicos da classe média como os Planos Poupança Reforma/Educação (PPR/E), os Planos Poupança Acções (PPA) e Contas Poupança Habitação (CPH). Em compensação reduzem-se as taxas de alguns escalões do IRS, o que liberta rendimento disponível e reduz a pressão salarial.
A inflação média estimada para o final do ano é de 2%. Nada mau. Os custos salariais ainda não serão pressionados por uma redução drástica do desemprego em que ninguém acredita (com excepção do Governo) e o efeito conjugado da inflação e da descida do IRS dão um contributo positivo. Significa, no fundo, que as actualizações de preços não serão pesadas poupando assim muitos riscos no relacionamento com clientes e fornecedores.
Também no final do ano pagaremos menos 600 milhões de euros de IRC pois a taxa aplicar em 2005 será de 25%.
É claro que os impostos, na sua generalidade, continuarão a ser elevados, no que respeita ao IVA nada se alterou, excepto um ou outro aspecto muito pontual, continuamos aa pagar muito mais que a Espanha. As garantias dos contribuintes sofrem um sério ataque, com a inversão do obus da prova para o lado do contribuinte que ficará mais exposto à presunção tributária. Mas prometem-nos, em contrapartida, dar mais justiça ao mercado, perseguindo e punindo os prevaricadores ficais.
O maior senão é que tudo isto assenta em alicerces muito vulneráveis. O maior dos quais é a previsão para o enquadramento internacional: parte-se da vontade de que o petróleo ande em média anual nos 33 dólares quando o seu preço actual ultrapassou já a barreira psicológica dos 50 dólares. Optimismo que é partilhado, ainda em maior grau, pelos orçamentos francês e espanhol. Crê-se, por outro lado, que as receitas extraordinárias darão um contributo recorde para a meta das receitas totais. Se a estimativa se ficar pela crença lá se vai o equilíbrio das contas abaixo do fetiche dos 3% do produtos. Não se pode duvidar que a economia cresça ao ritmo fixado de 2,4%, caso contrário lá se vão as receitas fiscais por aí abaixo e mais uma machadada no défice.
Vamos então guardar um desejos da passagem do ano para desejar que nada disto aconteça.
E vamo-nos sobretudo habituando à ideia de que não são muito densas as fronteiras entre o exercício da previsão económica dos nossos governantes e as probabilidades de um horóscopo.
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