Diário da Campanha

O prof. Cavaco anda a dizer, e bem, o que lhe mandam dizer, ao contrário do dr. Soares, que anda a dizer o que lhe vem à cabeça, o que era, aliás, previsível.
Partindo à frente nas sondagens, com algumas voltas de avanço e o trabalho rigorosamente planeado, o candidato Cavaco Silva até se deu ao luxo de retirar aos seus opositores qualquer veleidade de recurso ao «espectro da direita»: vimo-lo a cantar a «Grândola» e ouvimos uma claque organizada a gritar «Cavaco amigo, o povo está contigo». E Cavaco, que está com o povo. já se dipensa de dizer muito porque, face ao calor dos populares no itinerário da digressão pelos votos, já não consegue expressar o que lhe «vai na alma». Quando fala, acentua que é o povo que o leva em braços até Belém, não vá haver alguma confusão entre a força da vontade popular e a influência dos lobbies. Cavaco tem, na verdade, apoio popular. Disserta sobre coisas comuns que entram na cabeça de qualquer mortal.
Toda a campanha de Cavaco está organizada para a vitória na primeira volta. Mas, mesmo existindo um segundo round, será muito difícil conferir verosimilhança aos discursos de Soares e Alegre. Desvalorizam, com sagacidade cirúrgica, o único tema que interessa ao eleitorado: o económico. No país europeu onde existe maior desigualdade, no país europeu que apresenta menor crescimento económico, no país que, além da moeda, o que mais tem de europeu é o custo de vida é difícil ganhar eleições a falar de cultura ou solidariedade abstracta.
O dr. Mário Soares seguramente detesta, porventura com justa causa, o prof. Cavaco Silva. Mas nunca o conseguiu entender claramente.

Comentários

Mensagens populares