Desforra

Os sarilhos em que o Governo se encontra, e que tendem a aumentar, têm menos a ver com a governação e o modo arrogante como é exercida que com a premissa que lhe está na origem. O erro grave está, quanto a nós, em resumir o problema que a sociedade tem com o Estado à questão do défice. O equilíbrio orçamental interessa à vigilância de Bruxelas mas não preocupa, nem afecta directamente, os indígenas. Por outro lado o equilíbrio orçamental não depende unicamente dos gastos, sem dúvida excessivos, do Estado com salários.
A obtenção de um défice baixo, na perspectiva da convergência europeia, é apenas um objectivo intermédio que serve para segurar os preços dentro do espaço da União a um nível idêntico e aceitável, indispensável à circulação da moeda única. E há, como bem sabem os economistas, mil e uma maneiras de atingir o objectivo, ora desorçamentando ora empolando o produto, uma vez que é avaliado em percentagem do PIB.
Já a consolidação orçamental requer a reforma radical da administração pública e entidades conexas, a qual não está claramente em curso. Poupou-se alguma coisa? Porventura. Mas nada assegura que amanhã se não volte a gastar mais.
A verdade é que, mau grado as poupanças conseguidas na máquina estatal, o recurso ao aumento da carga fiscal comprometeu o crescimento do produto e, sobretudo, atrofiou ainda mais as pequenas e médias empresas, o pequeno e médio negócio que suporta a classe média a quem o Estado não pode pagar.
O resultado de tudo isto é uma enorme confusão. As sondagens não colocam o Governo em queda livre, pelo contrário, até lhe dão uma posição relativamente confortável. Mas quem o apoia e por quanto tempo? A função pública vai para greve geral, os médico o mesmo, os magistrados estão zangados, os desempregados desesperados e a classe média sufocada. Até o dr. Menezes começa a achar por bem denunciar os pactos. O povo não descobre grandes diferenças entre o Governo dos socialistas e a Oposição do PSD. Mas, de algum modo, vai desforrar-se.

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