O CHOQUE FISCAL

Quer se queira quer não o sistema político pátrio parece fadado a ser gerido pela tripla Sócrates, Santana e Portas. Eles são os epígonos mais celebrados e escrutinados da sua geração, já que Barroso optou por emigrar a troco de mais prestígio e maior salário, libertando-se das mesquinhas dificuldades da paróquia lusitana.
Qualquer deles não ignora que o «sistema» em que se movimenta é um polvo devorador e em amena decomposição, generalizadamente mal visto pelos cidadãos. Daí que, cada um à sua maneira, viva o dilema de ter ao mesmo tempo de encarnar e demarcar-se do palco onde exerce o protagonismo. Sócrates quando cair e caírem os seus, vai levar uma pateada surda mas cruel do PS, que não perdoará as traições cometidas à respectiva tradição socialista; Santana e Portas beliscam, pelo menos para efeitos de propaganda, a ordem estabelecida, mas sabem que qualquer veleidade mais liberal entra rapidamente em rota de colisão com os alicerces e as clientelas do «sistema».
Neste quadro que espaço sobra para Menezes? Se o «sistema» se aguentar, e é provável que tal aconteça por mais uns anos, o novo líder do PSD pode surgir ainda como a sua alternativa «risível», pois não lhe faltarão argumentos trinitroantes; para isso conta, o que não é despiciendo, com a preciosa colaboração de Santana Lopes. Menezes é pragmático quanto baste, fixa-se nas etapas e, acima de tudo, já provou que é impiedoso a atacar os pontos fracos do actual governo.
Acontece que, como vagueava por aí meio só, Marques Mendes deu algum eco às teses de Miguel Frasquilho sobre o «choque fiscal», colocando o tema no plano onde ele deve figurar: o dos princípios. Ou se mantém a actual política, ou se opta por outra em que o alívio fiscal liberta na economia privada recursos geradores de riqueza.
Ora, o problema mais imediato de Menezes é que, à boa maneira do epicentro do «sistema» (esse interessante bloco de interesses que tomou conta do país desde 1975), resumiu a questão fiscal a uma disputa de votos. Quer que os votos angariados por uma eventual descida de impostos não vão parar ao PS, exigindo que o primeiro-ministro fundamente uma eventual redução fiscal antes das próximas legislativas. Coisa fácil para Sócrates.

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