Desconfianças

A novela sobre o BCP, mais ou menos intensamente associada ao BPI, consoante estejam no ar, ou não, OPAs hostis deixará de entreter, nos próximos tempos, o circo mediático. Enquanto durou, e maçou desde o Verão, foi ofuscando outras notícias bem mais interessantes. Voltemos a elas.
A primeira relaciona-se com a consumada obcessão do défice, em vias de afrouxamento face ao calendário eleioral. Ninguém deu muita importância ao facto da Comissão Técnica do Parlamento ter apurado, após contas feitas, que a (na altura) proposta de OE para 2008 não cumprir os requisitos fixados para a consolidação do défice público.
A segunda remete para um estudo da OCDE e do World Values Survey, que conclui que os portugueses são dos mais desconfiados do mundo em relação aos outros e às instituições.
Ora, o estudo comporta uma salvaguarda interessante: as nossas empresas são das que menos tentam corromper no estrangeiro. Ou seja, não são só os nossos trabalhadores a deixar boa impressão lá fora, as nossas empresas, quando conseguem sair do mercado indígena, também se portam bem.
Há aqui uma conclusão simples a extrair. Se cidadãos e empresas têm bom desempenho, sobra o Estado, que não pode, tragicamente para todos nós, emigrar, como autor mais plausível do estado doméstico das coisas, o qual vive envolto, como se vê e sente, num clima de generalizada desconfiança.
De acordo com o estudo, se não existisse uma desconfiança tão elevada em relação às outras pessoas e instituições teríamos aumentado em 18% os nossos rendimentos médios por habitante entre os anos 2000 e 2003 com idênticos efeitos sobre o PIB.
O estado da pátria não é animador mas, em compensação, se, ao fim e ao cabo, o BCP se acabar por fundir com o BPI vamos ter um grande banco!

Comentários

Mensagens populares