ABOLIR O PASSADO

 Abolir o passado é abolir o presente, que passa a ser tábua rasa para o que se quiser que seja. Não só as novas gerações perdem a memória viva de como aqui se chegou, como o presente passa a ser uma espécie de tábua rasa inaugural onde se podem implantar os valores que se quiserem. A cultura das chamadas sociedades ocidentais, mais prósperas e mais ciosas da sua tradição democrática, e de quanto ela custou em vidas humanas, é dominada por uma espécie de cancelamento dos factos históricos, expressa, por exemplo, no derrube de estátuas, e pela reconstrução do passado em favor de uma narrativa "global" que alimenta a opinião pública a Ocidente. O também chamado capitalismo global não só se dá bem como estimula a corrente. Ou este começa a descobrir que a organização política chinesa é mais eficaz? Será, com o modo autoritário como lida com ele? 

Vivemos em Estados orwellianos em que o passado não é recriado apenas à custa de aldrabices estatísticas que suportam o discurso do poder mas sobretudo à luz dos valores do mainstream da cultura dominante que invade praticamente todos os espaços de informação. Inverter esta situação é uma prioridade para as democracias ocidentais, para os seus cidadãos? Não tem sido.

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