ACABOU A MAMA

 Houve quem achasse que a subida mundial dos preços era transitória, uma mera ressaca da pandemia e que se voltaria à normalidade de juros baixos quando a normalidade voltasse, o que se estimava, pelos vistos, para breve. Acontece que a disrupção (não gostamos da palavra, mas é a certa) causada pela pandemia tem consequências longas, assim como muitos dos infectados ficam a sofrer das sequelas de COVID-19 a prazo. Ora, países como Portugal aguentaram-se, nos últimos anos, à custa de juros muito baixos, o que manteve estáveis os encargos que o orçamento tem de suportar com a dívida acumulada, maior do que a que levou o país à bancarrota e à intervenção da Troika.

O Banco Central Europeu vem mantendo as taxas de juro baixas e comprado, a preço baixo, a dívida dos Estados da União. Portugal deve o seu equilíbrio orçamental, tanto no primeiro consulado Costa, como neste segundo, agora interrompido, aos juros baixos e à baixa inflação interna. Os tempos mudaram. O BCE já não garante nada. Se os preços subirem tem de utilizar o instrumento taxa de juro para controlar a situação. Acabou a mama. Com PRR ou sem PRR as coisas vão deteriorar-se. O PRR tapa buracos do Estado e apoia alguns grandes projectos, mas não remove os maus vibes para o investimento e actividade empresarial.

O que é mais interessante é que numa situação em que o país tem uma produção de riqueza medíocre, uma produtividade estagnada, rendimentos médios que se aproximam do mínimo de subsistência ocidental, ora se prepare o regresso ao tipo de governação que teve estes muito maus resultados, numa cena televisiva de "perdoa-me, mas aqueles eu não quero", ora se discute, entre a alternativa ao actual estado de coisas, a designada direita, quais são as «linhas vermelhas» que os partidos que a integram se colocam entre si, sem ninguém a mostrar-se muito interessado em falar no que há a fazer para abandonar o actual modelo económico, que é péssimo como está à vista.

Comentários

Unknown disse…
Muito interessante. Ângulo pouco falado habitualmente. Rui Moreira de Sá

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