O RISO DA HIENA

 A resiliência, como agora se gosta de dizer numa versão pacóvia e engenheira de 'resilient' (que subentende o sucesso depois de uma adversidade), é mais uma qualidade do vírus SARS-COV-2 do que o espírito que domina os humanos que ele persegue na sua caminhada de simples e devastador ... vírus. Há muito se sabia que um problema destes só não aconteceria por 'milagre', embora a Humanidade, ou os meios que reportam o que ela sente ou deve sentir, parecesse convicta que se podia sentar em cima da teia da natureza. Mesmo no meio da pandemia a soberba e os interesses continuaram a dominar a vida.

A tecnologia dispunha de vacinas que continham a torrente da infecção, e assim as coisas, pelo menos no Ocidente, onde houve milhares de milhões para pagar as vacinas, também ocidentais - sendo ainda ocidentais as de nova geração de RNA Mensageiro, até agora muito eficazes - , a Ocidente, dizíamos, houve mesmo lugar a «dias de libertação» da pandemia. Viu-se o que foi acontecendo pelo meio disto tudo. A incapacidade de vacinar os países menos desenvolvidos contra uma pandemia, que pela primeira vez na história da espécie, foi mesmo global com todos os continentes a comunicarem-se, ora em mercadorias, ora em negócios, ora em turismo a um ritmo diário frenético. Houve, nas democracias ocidentais, o «negacionismo», também fruto da arrogância com que os modernos que habitam as grandes cidades a ocidente têm em relação a tudo, incluindo a ciência. E houve, sobretudo, impreparação e incompetência reveladas em jeito de caricatura.

A pandemia deixará um rasto de transformação na sociedade e na economia. Já se sentem os efeitos. Não se conhece é a direcção. O impacto sobre a economia e a crise na oferta, que traz inflação e maior erosão dos rendimentos, continuará a ser grande. Quando todos julgavam tudo ultrapassado a nova variante do vírus já tem nome: Omicron. Até onde isto tudo nos levará, se houver novo surto?

Dá para rir da tontaria à solta e da desorganização dos poderes públicos. Mas é o riso da hiena.